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Arqueologia em comunidade (UFBA)

Atividade curricular em comunidade (UFBA 2016.2)

Cada vez mais tornam-se prementes ações dirigidas à preservação, pesquisa e aproveitamento econômico de áreas arqueológicas, tendo em vista o avançado processo  de degradação que estas vêm sofrendo com políticas econômicas que não as consideram como fatores de desenvolvimento comunitário. Acreditamos no processo educativo e na apresentação de proposta alternativas de utilização para que esta situação seja revertida. Esta experiência de ACC pretende dar uma contribuição, ainda como reflexão, para o processo de reversão. Neste semestre será trabalhada a comunidade rural de Morro do Chapéu. A escolha deste município deve-se ao fato que nele já existe em andamento pesquisa arqueológica, vinculada ao Grupo de Pesquisa Bahia Arqueológica (UFBA-CNPQ), que poderá dar suporte logístico, dados resultantes dos estudos feitos e, ainda, introduzi-los na comunidade com que vai se trabalhar. Atividades de extensão foram realizadas pelo Bahia Arqueológica nesse município, especialmente voltadas para educação patrimonial, envolvendo educadores locais, com resultados alentadores. De forma menos sistêmica, cada trabalho de pesquisa empreendido na região, tem procurado envolver à comunidade.

flyer ACC

Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade

Vencedor nacional na categoria Patrimônio Arqueológico, o projeto Circuitos Arqueológicos: Práticas Sociais da Arqueologia na Chapada Diamantina – Bahia, proposto pelo Prof. Carlos Etchevarne, foi premiado durante a cerimônia oficial em Brasília, neste 17 de outubro 2013.

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O Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade é uma homenagem ao primeiro presidente do IPHAN e foi criado em 1987 em reconhecimento a ações de proteção, preservação e divulgação do patrimônio cultural brasileiro. A partir deste ano, está dividido oito categorias:

  1. Patrimônio Material: Bens Imóveis e Paisagens Naturais e Culturais
  2. Patrimônio Material: Bens Móveis e Acervos Documentais
  3. Patrimônio Imaterial
  4. Patrimônio Arqueológico
  5. Políticas públicas, programas e projetos governamentais
  6. Responsabilidade Social
  7. Comunicação e mobilização social
  8. Ações Educativas

Essa inovação organiza mais claramente a participação de profissionais, empresas, poder público, comunidades e instituições de sociedade civil, ao estimular a participação de arquitetos, urbanistas, restauradores, paisagistas, engenheiros e outros profissionais que desenvolvem atividades neste campo do conhecimento; e ao valorizar as ações empreendidas por entidades governamentais voltadas para políticas públicas; empresas que desenvolvem ações de responsabilidade social para a preservação do patrimônio e entidades da sociedade civil dedicadas à educação patrimonial, mobilização e comunicação social.

O evento contou com a presença da presidente do IPHAN Jurema Machado, de vários superintendentes regionais, a exemplo do sr. Carlos Amorim de Salvador, entre outros diretores e funcionários do referido órgão. Além de representantes do IPHAN, estavam presentes na platéia diversas autoridades do Distrito Federal, Diplomatas e, principalmente, representantes de vários setores do Ministério da Cultura.

O discurso do Prof. Carlos Etchevarne, enfatizou a importância desse prêmio como forma de reconhecimento das ações da equipe do Bahia Arqueológica e a relevância das atividades educativas e arqueológicas desenvolvidas em conjunto com as comunidades da Chapada Diamantina.

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O advogado, jornalista e escritor Rodrigo Melo Franco de Andrade nasceu em 17 de agosto de 1898 em Belo Horizonte. Foi redator-chefe e diretor da Revista do Brasil. Iniciou a vida política como chefe de gabinete de Francisco Campos, atuando na equipe que integrou o Ministério da Educação e Saúde do governo Getúlio Vargas. Entre 1934 e 1945, período em que Gustavo Capanema era ministro da Educação, Rodrigo Melo Franco de Andrade integrou o grupo formado por intelectuais e artistas herdeiros dos ideais da Semana de 1922, quando se tornou o maior responsável pela consolidação jurídica do tema Patrimônio Cultural no Brasil. Em 1937 fundou o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, atual IPHAN, que presidiu até 1967.

Mais informações: Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico.

Escavações na Serra das Paridas (2)

Prof. Carlos Etchevarne – Laboratório de Arqueologia, UFBA

Generalidades

O sítio Serra das Paridas I forma parte do Complexo Arqueológico Serra das Paridas, junto a outras três concentrações de painéis com pinturas rupestres. O termo complexo arqueológico designa um conjunto de situações arqueológicas e topográficas (abrigos, paredões, locas), próximas e unidas espacialmente, tal maneira parecidas, que exigem sejam tratadas como uma unidade ampla de ocupação humana pré-colonial. Dentro do sitio Paridas I, por sua vez, podem ser distinguidos quatro afloramentos, com espaços abrigados e paredões que foram utilizados como suportes de pinturas, entre eles o majestoso paredão visível a mais de 1 km de distância.

Serra das Paridas está incluída em uma formação geológica denominada Morro do Chapéu, que nasce justamente no município do mesmo nome e se estende nos territórios de Utinga, Lençóis, Palmeiras, entre ouros. A estrutura geológica caracteriza-se por apresentar modelamentos que ressaltam na paisagem. Eles são afloramentos estratificados, com áreas abrigadas, de bases estreitas, o que provoca um perfil na forma de cogumelo. Ademais, apresenta-se sob a forma de paredões com marquises no topo. O tipo de rocha é o arenito silicificado, de granulometria muito fina, de cor arrochada e nuances róseas. Os acamadamentos areníticos, ou grandes blocos em estratos, foram erodidos provocando reentrâncias desiguais. Alguns desses estratos próximos ao solo foram profundamente erodidos, constituindo as áreas abrigadas mencionadas acima.

Em Serra das Paridas I os trabalhos de escavações começaram pelo afloramento 2, exatamente no abrigo, com superfície suficiente para alojar um grupo de aproximadamente 10 ou 12 indivíduos. Do solo afloram alguns blocos rochosos (alguns resultados de desprendimentos do teto e outros aflorantes da rocha do subsolo), que muito provavelmente já existiam antes das ocupações humanas. Isto quer dizer que, no momento de instalação, os grupos humanos deveram levar em consideração os blocos emergentes para definir os arranjos espaciais domésticos.

Paridas

O abrigo selecionado para a primeira intervenção não apresenta hoje vestígios de pinturas, salvo uns pequenos sinais em vermelho, bastante apagados, na parede lateral da esquerda, a 1,50m do nível do solo, aproximadamente. Não obstante, o abrigo localiza-se no mesmo afloramento em que se encontra o maior paredão pintado das paridas, que se estende sobre um patamar. Desde ele se divisa um horizonte de 160 graus sobre a planície arenosa, com vegetação esparsa, que se adensa na medida em que o solo se transforma em argiloso. À distância se perfilam os relevos de afloramentos proeminentes, entre eles o do Pai Inácio.

O abrigo tem praticamente todas as paredes recobertas de liquens, que podem ter sido os causadores da eliminação de pinturas se elas de fato existiram. Contudo, se considerarmos o contexto geral, pode ser observado que esse é o único abrigo capaz de alojar, com boa proteção, um grupo por um período prolongado e esta pode ter sido a razão pela qual não foi utilizado para pintar. Ou seja, haveria uma escolha específica para a pintura excluindo o espaço de habitação. Outra hipótese a ser considerada é a que o liquens estiveram sempre presentes o que seria um impedimento para a execução dos motivos gráficos pintados.

Escavações e material coletado

A parte central do abrigo foi dividida em 13 quadras de 1m x 1m, para serem trabalhadas por decapagem. Os registros das ações de campo foram através da filmagem, fotografia e realização de desenhos de plantas e perfis, além de, obviamente, anotações em caderno e fichas.

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A estratigrafia do solo estava composta em todas as quadras de um solo arenoso derivado da eliminação por erosão da matriz silicosa da rocha, que deixa soltos os finos grãos de quartzo. A camada superficial é de coloração cinza escura, resultado da decomposição da matéria orgânica, alcançando uma profundidade que variava entre 25 e 35 cm, passando para uma camada mais clara até cerca de 45 cm e por último o solo arenoso amarelo esbranquiçado, sem presença de nenhum tipo de matéria orgânica nem vestígios arqueológicos. A prospecção neste tipo de solo estéril alcançou 1 m, profundidade em que se abandonou a decapagem, considerando-se que, nesse sedimento, não existem vestígios arqueológicos. Em algumas quadras o solo a ser trabalhado ficou reduzido pela presença de blocos de rocha, sobre os quais não houve acumulação sedimentar. Cabe ressaltar que esta situação é semelhante à da Toca da Figura, em Ventura, Morro do Chapéu, ou que pode chegar a se constituir em um padrão regional de tipos de sítios sobre abrigos de arenitos silicificados.

Os materiais coletados durante as escavações podem ser classificados em dois grupos: vestígios orgânicos e vestígios inorgânicos. Os primeiros estão representados por fragmentos de ossos de pequenos animais, especialmente roedores e aves, alguns deles com marcas de fogo. Também foram coletados restos de gastrópodos (caramujos). Não foram achados vestígios vegetais, o que não significa que os grupos humanos que passaram pelo abrigo não tenham praticado a coleta e consumo de frutos, folhas, sementes, raízes, coquinhos de diversas espécies vegetais. A ausência deles pode apenas apontar , por exemplo, que houve deterioro pela ação do intemperismo.

Paridas 1b

Os materiais vestigiais inorgânicos estão constituídos essencialmente por objetos lascados. A matéria prima principal foi retirada do próprio abrigo, já que o arenito silicificado é muito apto para o lascamento e confecção de instrumentos. De fato pode ser observado que alguns blocos que estavam aflorando em superfície tinham algumas arestas com claras marcas de lascamentos, alinhadas ao longo de algumas arestas. Estas evidências podem ser encontradas também nos abrigos de Ventura, Morro do Chapéu.

Em linhas gerais, os objetos lascados são simples, variando de tamanho e de funções, mas predominam as peças pequenas, de 3 a 6 cm, com gumes cortantes ou bordes com angulação suficiente para raspar ou cortar. Os objetos confeccionados para furar são de tamanho pequeno, inferiores a 4 cm. Os instrumentos realizados a partir de lascas grandes tem o gume funcional disposto em linha semicircular, que ajudaria ao uso de corte.

A segunda classe de objetos líticos são de matéria prima diversa. Trata-se de peças de sílex, de tonalidades diferentes, empregado para a confecção de pequenos instrumentos para raspar ou furar. Como no abrigo e entorno não existe sílex deve deduzir necessariamente que ele foi trazido de fora. A reduzida quantidade de objetos em sílex pode estar vinculada à distância que devia ser percorrida para conseguir blocos ou seixos de sílex e transportá-los para o abrigo.

Paridas 4b

Convém ressaltar que na decapagem das quadras foram coletados blocos de hematita (óxido de ferro), matéria prima para a obtenção de pigmentos. Os blocos são pequenos e a hematita pode ser macia ou dura. Em qualquer dos dois casos apresentam sinais de raspagem (estrias paralelas e arredondamento de alguma face do bloco), o que corrobora a interpretação de terem sido utilizados para preparação de tintas. Três blocos tem peso excepcional com relação a seu tamanho, o que pode significar composição mineralógica diferente e, por isto, coloração diversa dos outros blocos, quando raspado. Estes elementos minerais são fundamentais porque falam diretamente sobre a presença de grupos pintores, instalados nesse abrigo, que teriam usado outras partes dos afloramentos para as representações gráficas.

Em duas quadras (a Q10 e a Q 11) foram achados concentrações de carvões, observando-se também no perfil das mesmas que havia depressões preenchidas com sedimentos diversos e partículas carvonosas. Esta situação vestigial denuncia a existência pretérita de duas fogueiras pequenas (não mais profundas que 40 cm, com um diâmetro de 40 cm aproximadamente). Apesar de não terem sido associadas a elementos pictóricos, como os bloquinhos de hematita, os carvões coletados serão datados, em laboratório, por C14, posto que eles são resultado da permanência de grupos humanos no abrigo.

Outra intervenção, mais circunscrita, efetuou-se embaixo de uma loca com marquise baixa (não superior a 1m), denominada Loca 1, em função de existir outra um pouco maior, logo a continuação. Na parede vertical da Loca 1, praticamente em contato com o solo atual%